EM UMA JANELA DE MÍDIA SOCIAL: REFLEXOS VIOLENTOS E PROJEÇÃO ARMADA

Resumo

Um adolescente, portando tal adjetivo de falta em seu próprio estágio biográfico, segura uma arma de fogo nas mãos. E após ameaçar, ele a atira e a atira no ar, em um bairro pobre, junto com dois colegas, de um veículo em movimento roubado. Outro transmite em tempo real em uma rede social, ao som de uma música do gênero Trap. Alguns estão com medo, tristes, desamparados. Para outros, provoca, ofende ou empurra. Mas a todos nós, oferece- nos a oportunidade de espreitar, em chave sensorial, descritiva e mesmo crítica, de questionar a sua exposição na construção de um carácter partilhado nas nossas realidades privadas, de valorização identitária consequente das nossas estruturas de consumo e ostentação, na procura de ver-se como num espelho refletido, para que os outros também o vejam, o respeitem e até o temam, mas sem medo (ou sem esperança) de que o Estado o veja ou continue a vê-lo, como sempre passou despercebido, por agências de proteção e educação e, em um grau pior, por agências de acusação e controle. Assim, convergem vários elementos de natureza sócio-criminogênica, de forma paradigmática, refletida em uma imagem representativa quase arquetípica em uma rede social. No reflexo da medida de responsabilidade que o Estado tem na anomia contextual dos nossos bairros críticos, e na menção do seu eventual poder de ingerência na exposição pública, valorizando nela, a passividade perante a necessidade de ostentação ou reflexão e projeção social de certos indivíduos.